Uma só palavra pode fazer a diferença. Para construir ou destruir. Uma pessoa, uma relação, um projecto.
E porquê? Porque a palavra nunca é neutra, tem sempre um significado e uma consequência. Ter um significado quer dizer que é interpretada não só por quem a usa mas, também, por quem a ouve ou lê. E esta interpretação arrasta sempre uma consequência. Não há como fugir a isto.
Uns exemplos.
Há uns dias, no telejornal da RTP1, a palavra “eleita”, aplicada ao cientista e deputado Alexandre Quintanilha, foi interpretada pelos espectadores como uma “piada” à sua assumida homossexualidade. O que arrastou a exigência de demissão do jornalista e o pedido de desculpas do mesmo.
Num casal de namorados recentes, o primeiro que disser “amo-te” anuncia o desejo de levar a relação a sério, o que obrigará o outro a aceitar ou a rejeitar a ideia, o que levará ao aprofundamento ou ao fim da relação.
Não é impunemente que os pais definem o seu filho como “estúpido” ou “inteligente”. Qualquer uma destas palavras vai ficar marcada a fogo no puto, será sempre recordada, e orientará a sua estratégia de vida futura – “eu não presto” ou “eu sou o maior”.
Numa discussão entre um casal, o marido diz à mulher: “Casaste comigo ou contra mim?”. Este trocadilho introduzirá uma quebra na discussão e abre portas para outros desenvolvimentos.
Imaginem agora que um padre pede licença ao Bispo para fumar. Se ele perguntar “Quando rezo, posso fumar?”, o Bispo responderá não, pois rezar não pode ser perturbado com o fumo. Porém, se ele perguntar “Quando fumo, posso rezar?”, o Bispo dirá sim, pois rezar deve ser feito em qualquer situação.
Brincar com os significados das palavras é muito divertido. É, aliás, assim, que os Gato Fedorento e outros humoristas ganham a vida. Há gente com sorte, né?
Pois, pois…Mas há um livrinho, chamado dicionário, que condensa todos os significados das palavras que usamos. E agora é que tudo fica mesmo complicado.
Vejamos, no dicionário da língua portuguesa PRIBERAM, o significado da palavra CIGANO:
Indivíduo pertencente aos ciganos, povo nómada, de origem asiática, que se espalhou pelo mundo.
Aquele que leva vida errante.
Aquele que tem arte e graça para captar as vontades.
Quem age com astúcia para enganar ou burlar alguém. BURLÃO, IMPOSTOR, TRAPACEIRO, VELHACO.
Aquele que é excessivamente agarrado ao dinheiro. AVARENTO, SOVINA.
Como se deduz desta leitura, a palavra “cigano” tem uma primeira definição étnica e todas as restantes são informais/pejorativas. Imaginem agora que pedem a um puto cigano que procure no dicionário o significado da palavra…Chocante, não é?
O vídeo seguinte ilustra a situação.
E se forem consultar no dicionário de italiano a expressão “fazer uma portuguesa”, o que encontrariam? “Andar nos transportes públicos sem pagar”! Animador, não é?
Divirtam-se a pesquisar outras.
Se julgam que “palavras leva-as o vento”, enganem-se. Elas marcam, serão sempre recordadas, orientarão o futuro.
Quando usar uma palavra…não beba.
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